quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Musica sem pauta







Através da janela um raio de sol acorda-me vagarosamente, é o último dia para a entrega da composição musical. Levanto-me ao mesmo tempo que a música desafinada da cidade entra pelos meus ouvidos. Apitos, portas a bater e gritos são acompanhados pelo compasso quaternário do comboio de mercadorias; uma desafinação que não apadrinhava a minha tarefa. O grito das ambulâncias acorda-me de vez obrigando-me ao trabalho.
As notas sucedem-se enchendo a pauta; componho a bateria, o piano e a flauta, acompanho com o tic tac do relógio que não dá horas e corro, corro muito, tenho que chegar a tempo porque é tempo de música.
No estúdio há risos e murmúrios, há acordes e tumultos, aos meus olhos é a cidade e a música.
Fujo! Paro na praia. O barulho das ondas, das gaivotas e do vento compõem a melodia do sonho. Acordo. Levanto-me. Corro em passos medidos do dó até ao si e volto em passos dançados ao som das valsas, dos tangos e das salsas do mundo.
O sol adormece e a noite chega com toda a tranquilidade. Mais uma melodia que terminou. Adormeço.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Oficina de Escrita Criativa na página da Escola

O professor Pedro Guerreiro já nos colocou na página da Escola.

Por isso, meus amigos contribuintes com escritos vários, não se percam na molenguice e descontraiam-se a escrever. Sobre tudo! Mesmo sobre nada!

Abreijos

fjr

Apenas mais um dia


O Sol entrou pela clarabóia do meu quarto, que se localizava num sótão qualquer, numa cidade sem importância a referir. Aqueles raios que despertavam as partículas de pó dos meus moveis, fizeram também com que instintivamente os meus olhos se abrissem para mais um dia de existência mundana, mais um dia normal.

Levantei-me da cama, lançando para longe os lençóis que rudemente tapavam o velho colchão. O sótão era claustrofóbico, com apenas um compartimento que servia tanto de sala, como de quarto ou mesmo cozinha. Espreguiçando-me, peguei numa fatia de piza esquecida em cima da mesa redonda e dei-lhe uma dentada, ao mesmo tempo que me sentei na única cadeira disponível nesta pseudo casa. Com um olho fechado devido à agressividade do Sol, olhei para rua para ver a roupagem das pessoas que passavam. “Estará frio?”, questionei-me.

Ao longe, o comboio marcava um compasso sonoro que, como que me hipnotizando, fazia com que todas as minhas atenções se dirigissem para aquela grande máquina de barulho contínuo. Não obstante, o meu ligeiro estado hipnótico depressa foi interrompido pelo barulho dos carros, que ano após ano, vieram alterar a música urbana da minha zona. Um e outro acidente pontual, acompanhados com velozes ambulâncias, apenas fazem com que esta pauta musical seja preenchida cada vez mais, tornando-se por vezes quase impossível captar a essência musical do nosso Mundo sem o Homem. Esses acidentes arrepiam-me, pois já não é a primeira vez que perco alguém próximo, como resultado desta massiva industrialização. Abanando a cabeça para tentar expulsar estas ideias negativas, olho para o meu relógio de parede que marcam as 10 horas. “Bolas, já é tarde”.

Vesti rapidamente uma camisola que estava em cima de um monte de roupa que, sinceramente, não sabia ao certo de estava suja ou lavada. “Não importa”. Enfiando a mão nesse mesmo monte de roupa, puxei por umas calças que vesti rapidamente. O casaco comprido estava deixado à entrada, coloquei-o e abri a porta que gemeu gravemente e depois saí.

Ao arrastar a porta de entrada do meu prédio, uma lufada de ar gelado bateu contra a minha cara e como resposta a isso, aconcheguei o meu casaco e retirei do seu bolso o meu cachecol. Isabel, uma vizinha minha, estava a chegar ao mesmo tempo que eu saia. Delicadamente, abri-lhe a porta. Ela vinha ao telefone e a rir histericamente, os seus risos sempre foram altos demais, mas como tinha acabado de acordar pareciam verdadeiras flechas directas à minha cabeça. Trazia um carrinho de bebé e um saco de compras. A conversa parecia ser realmente interessante, pois nem ligava aos berros do seu filhinho que conseguiam ser mais agudos do que as gargalhadas da sua mãe. “Quem sai aos seus...” e ri-me.

O dia estava exactamente como eu gostava. Um sol agradável, acompanhado por um frio de meter o queixo a tremer. Decidi passar pelo parque para ver os primeiros sinais do Inverno na Natureza. Gostava de ver aquela natureza morta, melancólica, que era realçada com pequenos arbustos de azevinho, com as suas belas bagas vermelhas que eram realçadas pela humidade existente no ar.

Entre os arbustos existia escondido um pequeno lago com uma estranha folhagem verde. Na sua beira, estava uma criança por volta dos sete anos, que perseguia grandes sapos que coaxavam fortemente. Eram uns seis e saltavam fugindo do jovem rapaz, como que brincando com ele. O miúdo fazia um som estranho, parecia que estava a imitar o coaxar dos sapos. Criou-se ali uma curiosa linguagem que não era mais que um delicioso e ingénuo cântico que me deu prazer em observar.

O pequeno começou agora a fugir, não dos sapos, mas da chuva que começou de forma repentina quebrando tal belo jogo. “Que chatice, odeio chuva!” pensei. Comecei a correr saindo do parque, em direcção a uns prédios localizados mesmo em frente. Essa série de prédios antigos eram acimados com pombas que pareciam nem notar esta forte chuva. Em baixo vi que o café que costumo frequentar estava aberto, e o Senhor António acenava para mim, chamando-me. “Corra, Corra!”, gritou ele. Entrei no café, sacudindo a cabeça e colocando o meu casaco pendurado no bengaleiro à entrada. O café era pequeno, com não mais de 10 mesas, tinha um pequeno balcão onde a mulher o Senhor António estava sempre ora a servir, ora a ver mais um programa da National Geographic que tanto gostava! Pedi um chocolate quente com canela, uma especialidade do dono do café. Olhei para a antiga televisão que estava perto do balcão e vi que estava a passar um programa sobre uma espécie marinha qualquer. A Dona Maria era ligeiramente surda o que fazia com que a televisão tivesse sempre o seu som demasiado alto. O som do mar do programa era estrondoso naquele minúsculo café e fazia com que os pomposos copos de cristal numa prateleira em cima vibrassem constantemente. Apesar do programa parecer interessante, estava atrasado e agora que a chuva tinha parado, era boa altura para sair. Atirei algumas moedas para cima da mesa que cobriam a despesa, baixei a cabeça em sinal de cumprimento ao Senhor António e saí.

Continuando a andar pelo passeio, vi ao longe um prédio apenas de dois andares. Numa das suas varandas estava uma bela moça, que apresentava um bonito vestido branco com grandes pintas vermelhas, era a Helena, a minha paixão. Sorriu para mim e entrou dentro de casa, acelarei o passo e nem sequer prestei atenção a uma grave discussão que se estava a passar numa sala de jogos próximo da entrada da casa dela. Os barulhos das maquinas de jogos desapareciam com a imagem da Helena a abrir-me a porta. Entrei na porta de casa dela, enquanto me puxava a mão para dentro de casa. A sua sala era simples, com pouca mobilia e sempre arrumada. O seu toque feminino fazia a casa sinceramente agradável, tornando vergonhosa a minha toca de pedaços de piza em cima dos moveis e roupa espalhada pelo chão. Uma mesa central tinha uma jarra com rosas vermelhas e um antigo gira-discos. Levando-me para perto da mesa, tirou uma das rosas do jarro que usou para prender o seu cabelo castanho e liso, atrás da cabeça. Os seus olhos cor de mel brilhavam ao olhar para mim. Mordendo o lábio inferior, ligou o gira-discos que começou a produzir um tango. Chegou-se ao pé de mim e levando os seus lábios junto aos meus ouvidos, sussurrou-me “Vamos Dançar”. Apesar de não saber bem dançar tango, toda aquela sensualidade de Helena levou-me a um estado de paixão profunda, que me fez compreender esta mui sensual dança. O tempo deixou de ser tempo, a música deixou de ser música, tudo aquilo se tornou num local onde a única coisa que se sentia era o amor. A dança não era suave, mas era de um jeito mexido que acelerava o coração. O som era apaixonante e a Helena a corrente que me ligava a isso mesmo.

“Um dia, não é apenas mais um dia”, concluí eu.

João Pais

Palavras captadas no exercício: Comboio, Carros, Transito, acidente, ambulancia, relogio, atraso, sinos, telefone, riso, felicidade, criança, chuva, tempestade, sapo, vento, mar, praia, flippers, sala de jogos, diversão, tango, dança, sensualidade, paixão

Leiam o que ouvem




Hoje foi a manhã dos sons. Sons diferentes mas que se completam.

Não há mensagens nestas sessões, não há fórmulas, apenas o pedido de lerem aquilo que ouvem.

Ah, hoje já passámos a ser o Clube dos 7.

Com o petit rien de termos duas professoras também no Clube.

Bem-vindos a todos.

Boa escrita. E divirtam-se!

Abreijos poéticos

fjr

Encosta-te a mim...




Encosta-te a mim
Encosta-te a mim, nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim, talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim, dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou, deixa-me chegar.

Chegado da guerra, fiz tudo p´ra sobreviver
em nome da terra, no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem, não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói, não quero adormecer.

Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.

Encosta-te a mim, desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.

Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.

Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.


Jorge Palma, in Voo Nocturno

sábado, 27 de outubro de 2007

Apresentação

Depois de uma primeira reunião, onde nos ficámos a conhecer pela primeira vez, fiquei bastante entusiasmada com o que virá.

Também sou uma grande amante da leitura, mas ao contrário do meu colega João, eu gosto de ler na praia pois sinto de uma forma diferente o que estou a ler, e como uma rapariga que sou (não querendo dizer que os rapazes/homens também não gostem) sou uma grande amante de romances, não de romances apaixonados mas de romances apaixonantes.

O meu último livro foi de Nicholas Sparks "As palavras que nunca te direi".

"Conheci" Nicholas Sparks aquando de um trabalho de apresentação oral no 10º ano de escolaridade e a partir daí fiquei completamente deleitada com a sua escrita, querendo sempre ler mais e mais das suas obras.

Assim e como termo de despedida, apresento-me.
Chamo-me Mariana Oliveira e sou estudante do 12º da escola secundária Francisco Rodrigues Lobo


Um beijinho e abraço a todos os intervenientes
Mariana

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Capítulo 1 - A escrita dos sons

NÃO ESQUECER


[A ESCRITA dos SENTIDOS]



A Escrita dos Sons
Capítulo 1 - Sessão terça-feira, 30 de Outubro, 10.00

encontro junto à Biblioteca



Apresentação Primeira

Olá a todos!

Parece que sou o primeiro a fazer esta apresentação! A minha decisão em fazer parte da Oficina de Escrita Criativa apareceu pela necessidade em desenvolver a escrita num duplo sentido. Em primeiro lugar para despertar em mim capacidades inventivas de criação e, por outro lado, na interpretação do real observado. A escrita consegue, na minha opinião, abrir portas bastante interessantes que têm de ser exploradas por nós. Ao escrever, aprendemos a intelectualizar sentimentos, a descrever o vivido e – entre outras caracteristicas várias – a aprender a ler de uma outra perspectiva!

Mas àparte desta introdução, chamo-me João Pais e ando no 12º ano da Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo. Sou um apaixonado pela leitura e também gosto muito de escrever.

Dentro dos meus gostos literários, posso afirmar que sou bastante eclético. Gosto bastante de policiais, principalmente daqueles onde exploram em profundidade as personagens, no seu comportamento social e pessoal. Aprecio também alguns romances, apesar de terem de mostrar alguma audácia para me agradar, pois odeio aquelas histórias recheadas de “clichés”. Gosto muito de romances históricos, pois as pinceladas de verdade que de vez em quando nos apresentam, fazem-nos levar a determinadas épocas e criam em nós um sentimento de mais próximidade com a história em si. Também aprecio livros relacionados com temas filosóficos, mágicos e religiosos, sendo eu um estudante de religiões arcaicas, como o Paganismo.

É quase impossivel dizer todos os meus gostos literários, porque de facto leio livros de todas as categorias, basta entrar na Fnac ou na Bertrand (passa a publicidade).

Não gosto muito de ler livros na praia, pois em primeiro lugar não gosto desse local de massas e depois não aprecio muito ter um livro a estalar cheio de areia entre as folhas. O meu local favorito para ler é na sala ou no quarto! Apesar de ler um livro no exterior também ser agradável quando o tempo assim o permite.

O último livro que li foi o “Pequeno Amigo” da Donna Tartt.

Espero pelas próximas reuniões da Oficina, que decerto nos permitirão desenvolver esta ferramenta primórida que divide a pré-história da história, que é a escrita.

Um abraço,

João Pais

Quem somos nós


A primeira coisa a fazer em casos deste é uma pessoa dizer de onde vem e ao que vem.


Se gosta de ler na praia, com o vento a espalhar areia nas folhas, se no sossego da noite, às escondidas do Sol e dos tormentos barulhentos (mas ternurosos!) que nos habitam também a sombra; se gosta de estórias/histórias (riscar o que não interessar) de amor, daquelas chorosas ( o Amor será sempre assim!), se de policiais, onde o nome do assassino está escondido por detrás da palavra FIM! E se gosta de escrever e o quê, já agora!


Cavaleiros desta página, meus amigos da Escrita Criativa, apresentem-se. Vá lá! Texto curto, aparadinho como o cabelo; ou comprido, com tranças. A escolha é vossa. Mas escrevam.


Abreijos
fjr

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Prólogo: hoje fomos cinco!

[A ESCRITA dos SENTIDOS]



Hoje fomos cinco! Nada mau para começar! Não os famosos cinco de Enid Blyton, mas outros que também gostam de histórias. De ouvir e de contar!

Reunimo-nos às terças-feiras, pelas 10 hrs e, durante 50 minutos, vamos falar de escrita. Ou escrever! Ou pensar no que havemos de escrever! Porque isto de escrever tem muito que se lhe diga: não basta afiar o lápis ou pressionar as teclas. É preciso concentração. Esforço. Dedicação. Sistematização.

Mas não desanimem, nem tudo isto se consegue ao mesmo tempo... Eu próprio ainda vou no É preciso...

Ah, sala, pois! Possivelmente uma das salas TIC. Caso não seja possível, uma outra. O ponto de encontro é, em caso de dúvida, a Biblioteca.



Não há melhor lugar para o grupo de Escrita Criativa se encontrar!

fjr

Oficina de Escrita Criativa - Vamos lá começar!



Oficina de Escrita Criativa

[A Escrita dos Sentidos]


Projecto do
Professor Fernando José Rodrigues, no âmbito das actividades na Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo, em Leiria.

Público-Alvo


Alunos, (possivelmente também Professores e funcionários) da Escola Secundária de Francisco Rodrigues Lobo, interessados em procurar, dentro de si mesmos, a imaginação de contar histórias, em aprofundar o que se vê e o que se poderá ver para além do mundo exterior, em descobrir que num grão de areia pode estar um mundo infinito.


Objectivos


Didácticos e pedagógicos
Estéticos
Éticos
Lúdicos
Artísticos
Colaborativos


Projecto
A Escrita dos Sentidos