terça-feira, 27 de novembro de 2007

Um pequeno, grande homem


Sob um sol impiedoso, António caminhava com o seu carrinho de compras, para mais um dia de trabalho.
Era um homem de quarenta e poucos anos, baixo e gordo, e como se imagina que seja um grande cozinheiro, muito comilão.
Numa bela manhã, antes de abrir a sua pequena tasca, António segue o caminho habitual até ao mercado, para poder comprar tudo o que necessita, como o peixe fresco, os legumes... para mais um dia sair tudo perfeito nos seus cozinhados.
Finalizadas as compras e de volta ao caminho, ao olhar para o outro lado da rua, repara que já muita gente esperava a abertura da tasquinha. Assustado com toda aquela multidão, tenta esconder-se mas não consegue. De repente, e numa inspiração de coragem, comenta - mas tu és um homem ou és um rato - e agarrando ferozmente no seu carrinho de compras segue em frente, em direcção à porta da tasquinha.
Ao chegar pede desculpa pela demora na abertura, e com um largo sorriso no rosto informa todos o que lá se encontravam, que hoje só iria abrir na altura do almoço, para poder novamente fazer os seus maravilhosos cozinhados de que todos estavam à espera.
Uma grande confusão gera-se à sua volta e como que num abrir e fechar de olhos, António perde-se por entre a multidão.
O seu carrinho começa a andar sózinho em direcção ao vidro da porta e passados alguns segundos, um grande estrondo de vidros no chão faz com que toda a confusão pare.
O carrinho acabara de partir o vidro da porta da tasquinha do António.
Levando os braços o mais alto que consegue, sem no entanto conseguir chegar à cabeça, António sente-se triste por ter o seu negócio arruinado, pois ninguém quereria almoçar numa tasca de vidros partidos. Fecha a porta e vai para casa desconsolado.
Dias depois recebe um folheto em casa dizendo - venha à reabertura da tasquinha do António, onde pode encontrar os melhores petiscos de sempre.
Admirado com o folheto, sai a correr para a rua e mais uma vez uma grande multidão esperava-o à porta da nova tasquinha. Todos se tinham sentido um pouco constrangidos pelo sucedido, e juntando-se, remodelaram toda a velha tasquinha, por ser o local preferido de todos para estar com os amigos.
António emociona-se e como agradecimento abre rapidamente a porta e anuncia que hoje, tudo o que se consumisse ali, era por conta da casa.
Era o dia mais feliz para António. Nunca pensara ter tanto clientes fieis.
A sua rotina voltara ao normal. Desta vez, e cada vez que acordava, levantava-se com o largo sorriso que todos conheciam, por saber que mais um dia ia ter casa cheia.

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